PIPOCA SEM SAL

Enganar no discurso, obter o recurso e como um santo agradecer a Deus no pranto

É Paradoxal

Incoerência, impunidade em permanência

É manter o legado antigo atual

TV no gato, na faixa, no ato e seguir na marcha contra corrupção

É contramão

Enfeitar a palavra, endireitar a gravata

Escolher casar a vida e trair sem inibição

É contradição

Colocar o véu, prometer a terra e o céu e trapacear o “prometo ser fiel”,

É se equivocar com a aliança

Viver de preto e querer o colorido intenso

É contrário

Orar a Deus baixinho e xingar o vizinho

É estranho

Querer perder calorias caminhando em passos firmes até a sorveteria

É aumentativo

De cór sabemos ser

sem nexo, avesso da nossa retórica, sem lógica

Luz no jardim acesa, quando sol ainda se mostra, esquenta.

 Por Lu Dornaicka

 Texto Pipoca Sem Sal

MUDA

Como giz de cera que se acaba em desenho vão

Gastei vida no ato, num tapa, a vista

Na festa errada, no sorriso de quem se disfarça no gole que rouba

No estilo fast food do agora que se vende e vai embora, nem demora e cobra lá na frente

Segui de olhos fechados, na dor contida, descalço

Levei tudo emprestado, esperei o secundário, tive aquilo que me foi dado, dos outros fui o comentário

Meu time, minhas taças e bolas fora

Pra tela do meu jogo fui transferido invertendo meu abrigo

Passei a resposta, não esperei por mim nem por ninguém, me cobri como cabana, vaguei o trem

Preenchi a semana com arroz e feijão, banho das 18 que pro ralo não leva o tacanho, TV baixa, muito talvez, querer rendido, boa noite e tudo outra vez

Acontece que nos segundos de algum tempo, me foi tirado o véu

Liguei a ponte, encontrei a lamparina, segui pro monte

Virei alguns graus, meu mar ganhou espuma

Meus dias com fôlego deram uma subida de onde avistei maneiras, canteiros repletos que nunca encontrei

Vi que existia um mistério mais alto me tirando do contexto embaçado sem perguntar que miséria eu era

A ciranda como vida cirandava, comovida parou seu giro, silenciou o momento na pista, abriu espaço pra eu ser protagonista

Nada mudou completamente antes de mim

Da vida escondida, pra vida transpirando

Não mais o que anota a cor da camiseta, o que a desbota

 Por Lu Dornaicka

 Texto Muda

DE NOVO TUDO NOVO

Anulo essa idéia

Não desfaço o laço, nem dou presente embrulhado

Admito, ando fora dessa risca se encontro em mim um menino bendito e descalço

Então me enrosco em fitas vermelhas, coloridas de boas intenções

Não nego a árvore de Natal piscando na minha batida acelerada

Acendo uma estrela na brincadeira

Repreendo o sem sentido da vida focada só em si

Agradeço a união na ceia, abstraio as ausências desse dia

Sinto A Presença

Seguro todo o amor em mim

Agora sim, desejo à você

Um Natal no tom dAquele que nasce!

Um Ano preenchido, lotado, amado e bem cuidado

Sem o vão entre datas, entre pessoas

Na contramão, seguindo de carona, levando no peito

Pro novo ser no agora e nunca mais lá no primeiro!

 Por Lu Dornaicka

 Texto De Novo Tudo Novo

OUTRO OLHAR

A corrupção pesa a pobreza magra e faminta

Revela a maldade na bondade dissimulada, que tira toda casca no dente e toma a fruta

pra si

Mas a vida é encontrada em todo endereço que há espaço pro passo

Ao subir a ladeira, ao descer na ribeira

Na sala, na discussão, na frase dita

Quando os olhos imploram e a boca se cala em entendimento

Nas rugas alcançadas pelo tempo, nas dunas formadas pelo vento

Em frente a porta, na conversa disposta, na carência que pede atenção

Vida no gesto, na cadeira que espera alguém

Vida na lata, no escuro, no caderno xadrez, na correnteza

Vida no improvável, na barriga que se expande pra criação

Vida no cabelo do sábio fantasiado de louco

Vida na simplicidade de ser, no drible da dor

Vida que altera o sem graça, desvia da avalanche que pára, da palavra que bate, do ruim

em empate, do programa apelativo diminui ibope

Pra ver vida é ajustar enfoque, ignorar um tanto

Ser sal e acender no gesto a travessia

Por Lu Dornaicka

 Texto Outro Olhar

SE HOUVER SENTIDO

Na caixa de madeira deixo o nexo, rasgo autógrafo, esvazio de papel, molho a poeira

Longe os excessos, cortadas arestas, jogadas as sobras, dado o que não se leva

Enrolo o tapete vermelho, desfaço a faixa preferencial, vendo o anel

Desfaço cilada que faz o maior querer ser peito inventado, corpo moldado, cabelo forçado, o rosto que se teve retornado

Me banho da transformação comedida, bem vinda auto-estima

Não concedo melhor lugar, não elaboro a frase com cautela, não dedico honrarias aquele que tem poder, com o que pagar, visual ou fama, nem todo servir, toda atenção, todo agrado, não por isso, por isso não

Nada feito, se é pra ser visto

Nada no lugar, se é só pra cansar

Nada é barato, se é todo inútil

Não compro sapato apertado liquidado

Rejeito a rotina que leva a vida toda pro bolso

O que ignoro ou não tenho já não me pára, nem me compara

Se está lotado, atravesso a rua e preencho o outro lado

Tento a leveza, roupa larga, o campo florido

Se invisto no que sou, cuido melhor da vida do outro, cedo meu lugar pra ver sua perspectiva

Cansei de Darwin, dos que riem da ignorância, de frases feitas

Sou o revide, palavra contida, o que agride, mão estendida, tapa, omissão

Sou o que abraça, vida dedicada, o que enlaça, pão negado, graça, elevação

Sou o altruísmo, mal reprimido, o que disfarça, não comenta, ameaça, afeição

Quando consigo ser melhor do que sou, Deus já me alcançou.

 Por Lu Dornaicka

 Texto Se Houver Sentido

PODE ATÉ ESPERAR

Tem o tempo dizendo que sempre um tempo haverá em segredo

Pra pintar vaidade, calçar necessidade:

Centavo por Centavo

Pra saborear a fruta escrita, começar na leitura novo ato aos setenta:

Página por Página

Pra granular brigadeiro, colar pro mosaico, montar quebra cabeça:

Um por Um

Pra aprender a lição, o trabalho, dança de platéia, uma distração:

Passo a Passo

Pra qualquer cura, encontrar o perdido, amigo ou querido, conquistar, nascer, ultrapassar, esquecer:

Dia após Dia

Pra cantar, escrever, dizer, ler, poetizar:

Palavra por Palavra

Pra se unir, beijar, se reconciliar:

Face a Face

Pra completar a hora, esperar no aeroporto, obter a resposta:

Minuto a Minuto

Pra enrolar novelo, fazer a mecha, ver a roupa:

Fio a Fio

E o ar leve em movimento cochicha em vento, a esperança por todo lado,

Pra levantar, erguer, mover, transformar

Tem o tempo  dizendo que sempre um tempo haverá em segredo

Por Lu Dornaicka

 Texto Pode até Esperar

 

PRIMEIRO EU

Se aproxima na tentativa. Em sua blusa bandeira desbotada perdendo força, no rosto marcado sinais de ausências e distrações, cabelo opaco, a intonação do que oferta implorando moeda ou qualquer coisa dada.

Quando esse pequeno chega, chega primeiro a precariedade, depois ele quem chega.

Perfume ventilado, diversos apetrechos notados, carro importado, roupa de corte invertido, marcação com valor investido estampado e a cor acetinada, determinando na intensidade e querer de quem usa ser bonita.

Meu caro ilustre onde chega, chega primeiro o cifrão, depois ele quem chega.

Diz que gosta do igual, no gênero,  agüenta intolerância, ironia, a ignorância, ser mais notado ou ignorado, se opõe no  visual, segue no salto, enfrenta os contrários.

Esse oposto onde chega, chega primeiro o que parece trocado, depois ele quem chega.

O dono, o proprietário, o chefe. O que dita as regras, comanda, manda e desmanda. Faz discípulos,  direciona, influencia, conduz e determina.

Aquele do cargo onde chega, chega primeiro o poder, depois ele quem chega.

Beleza sem argumentos e artifícios, sem retoques nos cílios, cabelo pra todo corte, rosto desenhado com toda proporção, perfeito corpo inteiro, seja rei, seja rainha.

O belo onde chega, chega primeiro a imagem, depois ele quem chega.

Um prato, uma fatia, um ingresso, um sozinho, sem parceria, sem companhia, o silêncio das palavras na sala, ninguém na hora vaga.

O solitário onde chega, chega primeiro a solidão, depois ele quem chega.

 Uma aparência, um sinal, uma preferência, uma característica, um emblema, um título, um perfil, uma deficiência, nos ultrapassam.

Um tanto nos alteram, nos moldam, estabelecem nossas relações, nos enganam, nos orientam, nos atrasam, nos revelam…

Quando chegamos, desconfiamos de quem somos.

 Outro dia encontrei um homem que nada me dizia sobre o que tinha. Sua aparência não chegava aos meus olhos, nada me indicava seus gostos, aptidões e segredos. Me aproximei de quem ele era, me achei diferente.

 Por Lu Dornaicka

 Texto Primeiro Eu

Trecho do Texto SUA MOCHILA, MEU TÊNIS

Nos labirintos das ruas, buscava sem parada, feito gente que recebe do Divino o querer de presente e ganha passagem.  Semáforo forçando brecada, pessoas transitando em toda direção, no atropelo por algum motivo ou sentido nenhum.  Outdoor falsidade congelada, vendedor de bala impondo questões da vida. Senhora com passos calmos da idade, levando maçãs e pensamentos distantes; Areia pra construção aquecendo barriga vazia do vira lata e sol clareando o verde das folhas presas voando, alcançando minha visão. O som que ouvia era música que ganha o ouvinte no refrão, sem merecer atenção, forjada, que acaba feito gelo mergulhado.

    Na minha vez, destoava a ausência no feriado, o jantar que não ia, a vela que não acendia. O resultado da soma dava ímpar e eu queria o encaixe do par.

    No querer transformar o roteiro e buscar alternativas, esbarrei-me em quem queria perto, sem procurar, como quem chega ao momento, se forma, se cura, se ajoelha.

    Sem ser meu namorado, era parceiro. As folhas parecendo de outono, davam  recados de Agosto que viria. Enfrentamos o frio, deixamos folhas secas rodopiarem ao vento, partirem deixando espaço ao novo.

    Seu humor me credenciava, levava tristeza que passava por mim.

    Sem você garoava, perdia parte o som, extensão, a boa maneira. Juntos, pra lá, pra cima, pra vida inteira, amor inteiro, agradecida, abençoada como uma videira.

 Por Lu Dornaicka

TRECHO do Texto Sua Mochila, Meu Tênis

BOM DIA

Cochilo o som

Desvio da quina, do breu, do chão desnivelado

Evito a dispersão das intenções desavisadas

Piso devagar pra ver acordar

Espio esperando raiar

Libero a manhã  pra dentro, na pele, na visão

Chega subindo tudo, suavemente o sol começando de novo

Bebo do céu, me faço pássaro no vôo

Agora, ao café com leite

Solto a pausa, me junto ao movimento.

Por Lu Dornaicka

Texto Bom Dia

COLEÇÃO DE FIGURINHA

Manhã se incomoda, põe sol pra subir, a gente pra começar a raiar o dia.

Vejo do décimo andar, brincadeira de quintal sem regra, com sede, balde, bola, skate.

Me pega esse som matinal, me tira do atual, me  leva pra infância de sabor adocicado, de aroma que não vem mais. De prazer completo de quem vive o presente, como se outro tempo não existisse. Vivo o deleite do instante  que me retorna para esse momento, que de tão distante, flagrado por outras pessoas, enfeitado  por outras  flores e prazeres, modas e sentidos, parece ter sido de outra:

FESTA JUNINA,

Cheiro de fogueira e quentão,

Sabor pé de moleque, na rua fechada contornada a amarelinha com tijolo de construção e a boa sensação de se chegar primeiro ao céu!

DOMINGO DE PÁSCOA,

casca de ovo pintada com tinta colorida, lotada de doce e requinte de madrinha

ALMOÇO,

da minha mãe, de meus avós pra vizinhança,

cheiro de feijão branco, feijoada, grão de bico e o riso escancarado chamando festejo.

PASSEIO DE BICICLETA,

dando direção ao meu destino, querendo ter mais idade, tentando ser percebida, vento no rosto sorrindo contentamento, liberdade, graça.

SHOPPING MORUMBI,

brincadeira no terreno, meio a cimento, morros de areia, patinação no gelo e bom cheiro de amendoim da Sears faturando no apelo.

PANDA,

pra comprar dip lik, doce de leite em formato de pingo, xícara de amendoim japonês, escolher uma bala no baleiro, caderno, papel de seda colorido, cola e carretel pra esperar o vento e fazer da tarde o roteiro.

BRINQUEDOS,

aquaplay, cai não cai, músicas dos comerciais da Estrela, a fantasia, lançamento,  a mania, a euforia, toda alegria.

PAPALARIA,

estojo de dois lados, papel de carta, caderno iniciado, livro novo, seu cheiro nos preenchendo em cada página virada.

HORA DO RECREIO,

gosto de gelinho no portão da escola, morango de saquinho do leite de soja, gosto de açúcar queimado dividido debaixo da árvore,

SOMBRINHA,

nos guardando do sol pelo caminho da escola, Alê e eu, começando meio dia a trajetória.

SABORES,

chocolate sensação de laranja, gelatina de cereja feita por minha avó, macarrão na manteiga, feijão arroz e purê, café com leite, achocolatado antes de dormir.

ESPERADO,

Natal e visita de qualquer pessoa.

AMIZADE,

capuccino, esmalte e torta de pêssego, vem Simone, inquieta, direta.

Casa que tinha sentimento de um tempo, foi  lugar pra dormir, extensão de minha morada, lotada de momentos para recordar, lugar de kelly amiga pra sempre chamar.

Alê pra vida compartilhar e dizer grande amiga, Zaga, grata.

Foi chegando o momento Keep Cooler,  calça jeans e camiseta, mais aparentes as tribos pra se pertencer; sucedendo momentos que predominam as escolhas, desencontros, frustrações, descobertas, utopias, amores, ideais, identidade…  Aqueles que todos os dias nos reconhecemos, nos perdemos, sorrimos a chegada ou queremos ultrapassagem. Que dia é hoje?

Por Lu Dornaicka

 Texto Coleção de Figurinha