Série - Palavras Que Conto

Ruzzi

Menino com acento, curioso, forasteiro e mineiro.

Ganhou tamanho, derrubou um muro, saiu de um quintal pra São Paulo, capital de suas melhores páginas, contracapa cheia de contradição, ousadia, amor e perdição.

Distante de Minas sem saber qual rua era a direita, na Consolação uma voz de Guaxupé,  seu nome repetido com persistência, um amigo na sua calçada, o inusitado do divino e a condução pro abrigo de uma pensão repleta de simplicidade e a boa sensação da companhia.

De trabalho em trabalho, sua rotina era disciplina, dedicação e muito estudo.

O bom moço logo encontraria uma gaúcha linda, que seria seu alicerce e grande parceira. A partir de então não se veria mais Ruzzi sem Silvia como se fossem nome e sobrenome.

Sua calça verde e camisa azul, marcariam o encontro com ela que trocaria esses tons, harmonizaria seus dias, seria seu suporte e formaria um arco íris nos tempos incertos.

Em uma das maiores agências de publicidade da época – Mauro Sales – o aprendiz sempre era chamado a encontrar o número e fechar a conta. Passou a participar das reuniões com  lápis afiado, papel e toda precisão.

Descobria falhas, desvios e traços em números. A resposta não vinha do alto escalão, mas de seu caderninho sem erros.

De repente era aquele que finalizava a planilha e substituía o diretor financeiro. Ganhou confiança, prestígio, cargo e até um Maverick laranja.

Não teve filhos. Uma esposa direcionada a ele, daquelas que marcaram uma geração. Não trabalhava fora, organizava a casa, enfeitava com flores, costurava a cortina, fazia o bolo de todos os aniversários,  o esperava com a refeição e toalha de banho na mão. Ele dedicado no escritório, ela perfeita na ordem da casa e da rotina, assim enriqueciam e conduziam a vida.

Construíram um sítio cheio de flores e varanda, para o descanso do fim de semana, churrasco em família e aposentadoria. Formavam a imagem organizada das finanças, passada das roupas, de casa cheirosa da gente.

Sem razão, as mãos dela esquentavam, as pernas cansavam e  os movimentos se tornavam lentos sem diagnóstico. Fortunas gastas em tentativas, esperança renovada a cada dia. Ele se doou inteiro e até o fim. Logo se tornou um só, sem querer e sem saber.

Reaprendeu a cuidar de si, a fazer suas refeições, organizações. Se desfez do sitio, vendeu seu apartamento cheio de cantos e encontros, comprou outro e depois tornou a vender. Comprou casa, vendeu casa, mudou de cidade e tornou-se a mudar. Repartiu seus bens, vendeu seu carro, gastou o que tinha e foi tentando se achar. Nessa nova travessia teve gente pra abraçar e gente de iludir. Ouviu vozes traiçoeiras, inventou vícios, interpretou o papel de um personagem  enganado, se perdeu e se foi.

Vaidoso no creme, no shampoo, no iogurte e na fruta da manhã que comia, de feliz gargalhada que nos ria, da piada que o riso chorava e não terminava. Gostava de toda gente, de conversas sem fim, de leite com gotas de café, de ajudar, se interessar e de ter fé.

O fim não revela o todo. Foi um Antonio que não foi santo, mas muito valia.

Em memória do meu amado padrinho Antonio Ruzzi e madrinha Silvia O. Ruzzi.

Com todo meu amor. Lu Dornaicka

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