PRIMEIRO EU

sem-rotulo

Se aproxima na tentativa. Em sua blusa bandeira desbotada perdendo força, no rosto marcado sinais de ausências e distrações, cabelo opaco, a intonação do que oferta implorando moeda ou qualquer coisa dada.

Quando esse pequeno chega, chega primeiro a precariedade, depois ele quem chega.

Perfume ventilado, diversos apetrechos notados, carro importado, roupa de corte invertido, marcação com valor investido estampado e a cor acetinada, determinando na intensidade e querer de quem usa ser bonita.

Meu caro ilustre onde chega, chega primeiro o cifrão, depois ele quem chega.

Diz que gosta do igual, no gênero,  agüenta intolerância, ironia, a ignorância, ser mais notado ou ignorado, se opõe no  visual, segue no salto, enfrenta os contrários.

Esse oposto onde chega, chega primeiro o que parece trocado, depois ele quem chega.

O dono, o proprietário, o chefe. O que dita as regras, comanda, manda e desmanda. Faz discípulos,  direciona, influencia, conduz e determina.

Aquele do cargo onde chega, chega primeiro o poder, depois ele quem chega.

Beleza sem argumentos e artifícios, sem retoques nos cílios, cabelo pra todo corte, rosto desenhado com toda proporção, perfeito corpo inteiro, seja rei, seja rainha.

O belo onde chega, chega primeiro a imagem, depois ele quem chega.

Um prato, uma fatia, um ingresso, um sozinho, sem parceria, sem companhia, o silêncio das palavras na sala, ninguém na hora vaga.

O solitário onde chega, chega primeiro a solidão, depois ele quem chega.

 Uma aparência, um sinal, uma preferência, uma característica, um emblema, um título, um perfil, uma deficiência, nos ultrapassam.

Um tanto nos alteram, nos moldam, estabelecem nossas relações, nos enganam, nos orientam, nos atrasam, nos revelam…

Quando chegamos, desconfiamos de quem somos.

 Outro dia encontrei um homem que nada me dizia sobre o que tinha. Sua aparência não chegava aos meus olhos, nada me indicava seus gostos, aptidões e segredos. Me aproximei de quem ele era, me achei diferente.

 Por Lu Dornaicka

 Texto Primeiro Eu