
Molhou o cabelo, validou no espelho
Colocou na lancheira seu suco, seu pão
Seguiu com sapato em pés trocados
Foi com pé esquerdo o direito
Bateu a porta repleto de certezas, correu sozinho pra escola sem dar a mão
Inventou bons gestos na mãe que nunca existia, nem mesmo quando estava e fingia alguma atenção
Era aquela que não fazia o comentário, o favor, nem a refeição
Isolado pelas mentiras, inquieto, invejou o que era materno, mendigou qualquer afeto
Sem conhecer seu itinerário, seus porquês e imaginário, foi o pequeno mal julgado e quase sempre tirado de cena com a mão
Enganou o que via no enfrentamento, teve um sorriso forçado, chorado
De repente era um homem, sem convite, de difícil trato, sem apetite
Em outro instante no cansaço de um ator constante, reservou seus papéis, guardou máscaras, negligenciou imagem de dureza, sem poder evitar se desarmou em menino, em silêncio esperando ajuda o bendito
Nesta hora um atento enxergava um outro naquele, como uma figura encontrada pela esperança em nuvem carregada
Abstraía então imperfeição e abraçava apertado a criança
Seria esse disposto, meio a multidão em preto e branco, alguém que ganha destaque de cor
Daquele que levanta um desmerecedor, cria o elo, convida pro jogo
Com poucas vogais, embasado, alguém que inverte ordens de pensamentos superficiais, rasga o discurso simplista aceito sem aprofundamento, nas esquinas, na preguiça
Daquele reprovado na matéria extra curricular “jeitinho brasileiro”, como quem não se deixa intimidar por tanta noite, cai sua estrela, feito luz que ultrapassa a janela e acende seu pedaço
Levanta bandeira de causa alheia, pesada de tanta gente em seu emblema
Alguns sendo por uns, uns se transformando em alguns, tantos no um a um.
Por Lu Dornaicka
Existe Alguém